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O Crocodilo Junguiano

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Chegou a primavera e com ela a altura em que a alegria daqueles dias mais quentinhos desponta nos nossos rostos. A primavera é um momento de alegria porque não só é uma antecâmara para a vinda do verão como também é uma estação com imensas cores, flores e experiências sensoriais.

Porém nem tudo são rosas na primavera.

Muitas pessoas sofrem das alergias próprias desta estação devido sobretudo à ação dos pólens. Porque é que as pessoas sofrem de alergias?


Porque a inteligência dos seus corpos foi posta em causa.

A alergia ao pólen é uma resposta imunitária exagerada, porque o que acontece na realidade é que o corpo está a “defender-se” … de algo inofensivo. A sua percepção foi distorcida.

Isto acontece devido a alguns fatores como por exemplo vivermos desde muito cedo em ambientes urbanos poluídos, alimentação inflamatória, stress crónico e emoções reprimidas visto que o sistema imunitário é altamente sensível ao nosso estado emocional.

Noutros campos da nossa vida, para além da reação às doenças autoimunes que afetam sobretudo o nosso estado físico, também somos severamente afetados pela distorção das nossas percepções relativamente àquilo que são os arquétipos que defendemos e como estes, estando intensamente inflamados com os estereótipos culturais a que nos habituámos durante anos, quem sabe desde sempre, conduzem a um estado de doença autoimune que influencia principalmente a nossa relação com o Self, a nossa totalidade de onde advém tudo aquilo que somos no tempo e no espaço.

Para entender como podemos transpor a barreira que nos separa da “saúde a dias” da verdadeira experiência de saúde temos que deixar de abraçar com um vigor assertivo a ideia de que os crocodilos estão encolhidos num universo bem distante do nosso e que aquilo que dizemos e fazemos não afeta o sorriso que estes enormes animais podem esboçar ao esbarrar com força na sede dos nossos sonhos e dos nossos pensamentos.

Há alguns anos atrás, um artista de seu nome Marcel Duchamp lançou uma pergunta profunda aos seus críticos acerca de uma obra de arte sua, “A Fonte”, que não passava de um mero urinol: “E se a arte for uma ideia e não uma forma?”

Não é linda esta ideia?

 De uma assentada, Marcel Duchamp desarrumou por completo as nossas gavetas estéticas, atirou para o chão conceitos como a beleza dos nossos arquétipos, a nossa crença fundamentada num universo estático unilateral e o modo como definimos o conceito de beleza, que está amiúde relacionada com essa perfeição das linhas. As pessoas e a natureza não precisavam de ser belas, elas apenas precisavam de ser o que eram.

A beleza do crocodilo estava a salvo e nossa rede cósmica interior, onde os sonhos, os mitos, as revelações, a nossa ideia do sagrado apenas tinham o seu lugar na parte de fora do tecido sob o qual a realidade, o self se quisermos chamar, se esconde bem quietinho à espera de nos surpreender com o seu estilo agressivo, poderia se expandir para lá das fronteiras da nossa percepção condicionada.

Hoje em dia, diferentemente de Duchamp que via o mundo multidimensional a que o seu sentido interior apelava, as pessoas estão depauperadas porque têm medo de atravessar o rio de uma Consciência que abraça como belo e feio ao mesmo tempo todas as formas do universo. Fazem-no com medo de que apareçam nesse rio crocodilos famintos que lhes abocanhem o que durante anos demoraram a construir e a manter com esforço, que são os seus egos.

Portanto o que estou a propor ao longo deste texto é que paremos um pouco para contemplar a sabedoria Junguiana do crocodilo. Não se trata de olhar para o crocodilo com as formas com as quais identificamos um urinol. Trata-se de imaginarmos um crocodilo a olhar fixamente para nós e, deixando o cortisol de lado, o que fica dessa experiência.

 No universo do crocodilo Junguiano onde a realidade é o mordomo, o sentido do belo, o sorriso do crocodilo, a intemporalidade dos processos quânticos, o urinol de Duchamp, o Amor Incondicional e o sistema imunitário são parte dos padrões universais que herdámos e interpretámos da nossa história enquanto seres humanos.

O Real é intangível porque é como uma brisa quente, um estado de superposição que a nossa consciência canaliza e cujas consequências das nossas ações derivam da forma como observamos e interagimos com o mundo. Não permitamos que o nosso ego apenas dê cor verde ao crocodilo. Expandamos a nossa mente para lá dos limites que nos autoimpusemos e com um coração cheio de amor e esperança, permitamos que o Self sejamos nós no silencio que existe entre cada percepção.

 
 
 

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