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“Bola ao Solo”

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Não, não vou falar aqui de futebol, fiquem descansados!


Embora esta conhecida expressão possa pertencer ao jargão do futebol ela é muito feliz porque pode ter uma aplicação prática para o nosso dia a dia no âmbito da tomada de consciência pura.

A expressão “bola ao solo” pronuncia-se quando num jogo de futebol (outras modalidades que envolvem o uso de uma bola também se socorrem desta expressão nas respetivas situações de jogo) a bola é colocada no chão (solo) para se reiniciar a partida que, entretanto, foi interrompida pelos mais diversos motivos.

Quando o fluxo da nossa relação com o tempo e o espaço sofre a interferência do ego, as nossas decisões se tornam inconsistentes e a nossa tomada de consciência do momento presente é seriamente comprometida. Ora o nosso ego é egoísta, como o próprio nome induz, e, portanto, só nos deixa ver a dimensão física de todos os acontecimentos da nossa vida. Quando permitimos que sentimentos como a vergonha de sermos quem somos, o medo de revelarmos a nossa faceta menos feliz e manifestamos a dúvida em relação àquilo que é o nosso potencial, o nosso corpo responde com desconforto, dor e doenças que muitas vezes causam muito sofrimento. O ego, isto é, o eu de que nos apercebemos apenas com os nossos sentidos periféricos, com a finalidade de continuar a realizar o seu exercício de interdição à verdadeira face da alma, que é a consciência na sua forma mais expandida, acumula muito lixo nesse processo. É como se nós, para protegermos a nossa verdadeira aparência dos juízos de valor dos outros, nos revestíssemos de muita roupa a fim de nos cobrirmos totalmente. Podemos até imaginar esse cenário. Independentemente da nossa idade importa salientar que o peso dos problemas, desde o acne no rosto de um jovem que valoriza a sua aparência, as contas por pagar e a obtenção do sustento dos adultos até às doenças e à solidão que muitas vezes aparecem com a idade sénior cansam imenso e criam enorme desgaste não só físico, como emocional.  O cansaço acumulado pelo peso de toda essa “roupa”, de que é muito difícil nos libertarmos, com o tempo vai criar-nos um enorme desgaste a todos os níveis e provavelmente podemos tombar ou pelo calor ou mesmo porque já não podemos suportar mais esse peso. É importante lembrar que na maioria dos casos fomos nós que escolhemos vestir toda essa roupa porque fomos nós que quisemos esconder de nós e dos outros a nossa verdadeira aparência. É claro que as doenças e mesmo a velhice não foram escolhas nossas, porém, envelhecer com saúde está ao nosso alcance quando sabemos o que fazer com a “roupa” que a vida nos oferece.

É quando decidimos tirar cada uma das peças dessa roupa, uma a uma, que a magia acontece e a nossa verdadeira aparência começa a surgir. O que estamos aqui a tratar é aquilo que representa para o nosso verdadeiro Eu o alívio da pressão que durante muito tempo toda esta “roupa” incidiu sobre as nossas vidas bem como as nossas escolhas.  Assim, quando decidimos despir a última peça e esta cai ao chão, arrasta com ela também o ego, que durante muito tempo na nossa vida criou a ilusão da separação.

Agora que estamos totalmente nus no sentido espiritual da nossa existência onde devemos deter a nossa atenção? Ao olharmos para a roupa antiga que se acumulou junto de nós a ponto de nos dar pela cintura o que decidimos fazer? Vamos embora com uma nudez completamente alheia à validação exterior?

A verdade é que quando deixamos que a “bola caia ao solo” no sentido em que nos desapegamos das roupas que já despimos, permitimos que o fluxo ininterrupto da consciência assuma o leme dos acontecimentos da nossa vida. Nesse ponto a nossa alma saberá o que fazer ao tomar consciência das decisões que tomamos e se torna ela própria o árbitro que define e defende as regras com que regerá a nossa vida.

Por isso nunca desistamos de querer crescer, de querer jogar ou mesmo de querer despir quando outras pessoas nos acusarem com base em juízos de valor ou deixarem de acreditar em nós. Acreditemos em nós mesmos, expandamos a nossa consciência através de práticas de atenção plena e cuidemos de nós incondicionalmente. Não permitamos que o ego nos obrigue a vestir novamente a roupa suja de que já nos desapegámos. A “bola ao solo” significa um desapego fundamental ao nosso passado e um despertar para a consciência de que podemos voltar a jogar sempre que quisermos dar atenção ao nosso presente.

 
 
 

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